sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

é zé e maria

zé, homem de deus, cansado da serra, amarrou-se a maria,
maria bonita, não nega fogo, é de noite e de dia, maria se cansa,
zé fica, somento vivo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

pagu

pagu tem os olhos moles 
uns olhos de fazer doer, 
bate-côco quando passa,
coração pega a bater.



é, pagu, é! dói porque é bom de fazer doer.



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

azul

sol da manhã, tarde não muito boa, céu anil, azulado, câmera sobre a mesa, fotos penduradas, livros folheados sobre a estante, palavras amargas de dor, de rancor, cansaço, preguiça, dor, sono, vontade, sede, querer, não querer, vários não, negligência com as aparências, nú de tudo e de todos, céu rasgado,  me engasguei com o que sou.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

ser, só.

minha palavra não quer ser, tampouco parecer o que deve, como eu também não quero, mesmo estando propício ao lado oposto da vida, chavear-se não é esconder-se, nem mesmo fujir do que parece, encontrar-se é mais confuso que perder-se mesmo não havendo opção de ser o que talvez parece, ser desde o nascer, talvez ser seja mais aparente, do que ter desde o nascer, para ser de repente, nada que me faça temer agora esse jeito de ser, jeito bom de se deixar viver.

domingo, 16 de outubro de 2011

no ápice

sim, eu sei que ainda falas no meu nome, o quanto és sincero consigo mesmo nas horas de caos, serias novidade pra mim se um dia cruzares aquela porta serei tão frio que voltarás atrás daquela semente a qual jogastes um dia pela janela da minha residência, a qual me deu um pé de dor, enorme, rachastes as paredes de minha casa com tua má fé, com teus olhos de dor feristes meu peito a ferro a fogo, e com tua bruxaria, feiticeira barata, me jogou no precipício, o qual pensei que não suportaria, mas com tanta agonia que jazia e corria em minhas vias flutuei em meu próprio ser como se fosse possível tornar-se fantasma do vão, vácuo profundo, sem fundo, éramos assim, donos de um línguajar marcante, donos das concordâncias, usávamos sem preponderância, hoje ciciamos um do outro, somos atônitos aos encontros, em límpidos momentos de pura desordem de súbito.

dor de puta

ela vem urrado sua dor cardíaca, puta que pariu, ela quem chama, e não gosta da mãe, é tão santa, ronda a cidade na madrugada drogada, alcoolizada desde a semana passada, parida de uma ressaca braba, da qual não consegue livrar-se, traz a beleza, na cara, nos olhos azuis, dona desta beleza, da manhã acesa, da ferida acesa, dói tudo, mas ela vem sorrindo, com vontade de chorar.

sábado, 15 de outubro de 2011

reza

criei esta atmosfera protetora em torno de mim, para não ter que me expor a tanta hipocrisia, esse mal cheiro de sempre, me dói no saco, vou fazer promessa, vou pedir a todos os santos, a tudo que é deus, e eu sei, ele me abrirá portas, porque ele está pra abri-las como também ele está pra fechá-las, vou rezando que o que tem de fita de santo no braço, tô cheio, tô fora, tô dentro, uma roseira exala essa beleza, que é sentir, sentir de tudo, o cheiro das rosas orvalhadas de manhã, me traz lembranças, das quais não posso citar, me puxa pelos pés, me leva pra chuva, me molha, e me sacode, me bota no samba, me roda, na roda, baiana, na reza, vim pra bahia, me joga no samba, me roda, que vim pra sambar.

sábado, 1 de outubro de 2011

xangô

e vai severina, descendo e subindo a
ladeira da vida, vai cantar,
vai dançar pra joão e josé uma linda
melodia, vai soltando a voz
e as pernas na mesma ladeira, ladeira
de dor, rancor e agonia,
maldita mazela, de noite e de dia, uma
 dor na cabeça e traz outra na vida,
mas agradece feliz, sinal que está viva, e
vai-se severina mais uma vez
descendo e subindo a ladeira da vida,
dizendo a joaquim que já é hora,
e diz mais que já passou, mas na verdade ela
vai toda noite no terreiro
agradecer a xangô, o bem da vida, e lá ela
se solta no bater do tambor.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

...

já foi dito que a palavra amar deriva da palavra morte, porque quando uma pessoa diz: eu te amo, está dizendo: eu morreria por você, mas não é bem assim, porque é mais fácil matar do que morrer.

sábado, 3 de setembro de 2011

desde agora

criei para mim um lugar onde eu esteja seguro, criei algo que eu posso
chamar de meu, e ninguém mete a mão, fui mais além do que eu sou,
do que eu quero e do eu penso, fui previsível, mas do que adianta ser
imprevisível se você não for capaz de subestimar a si próprio?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

sal-agosto

há quem diga que o mês agosto é o mês do desgosto, e talvez,
seja mesmo, porque gostando ou não me sinto desgostoso, com
o tempo, tempo da magreza, da confusão, e da falta de apetite,
nesse período sinto a vida amarga, a vida apimentada,
na verdade salgada.

sábado, 27 de agosto de 2011

gosto

é uma dor de dentro pra fora, igual a nenhuma outra, diferente das
demais, pois cada um tem a sua, eu trago a minha como fardo, um
cargo do qual não recebo em troca, que marca desde a hora que
nasceu e eu não sei quando acaba, só dói, dói, é esse sentimento
que não quer sair.

fato

mesmo que minha rima não tenha valor,
não tenha forma,
mesmo que despenquem as palavras daqui de cima
quero cada vez mais fazer com que elas sobrevivam, pois
eu sobrevivo a mim mesmo e ao que o mundo é, e isso é tudo,
entre eu e o mundo.

feito

feito de carne pura, em carne-viva, sinto cru entre os dedos e dolorido nas unhas, sou o que sou, e já fui outros, hoje já não conto os de antigamente, são como livros empoeirados na estante, só contam histórias de quando o diabo era moleque, hoje ele já é velho feito, adora aprontar conosco, estou fechando as portas para os dias de cão, e as noite de inferno, mesmo sabendo que elas voltam a bater, mesmo sem querer, acho que ainda sinto aquele lágrima descer.

chulo

caio de um penhasco quase todos os dias,
pode me chamar de vadio, pois estou no cio.
quero que o raio o parta,
vou aproveitar o sol
e a maré
pra salgar e pintar a pele
vou mergulhar no mar das ilusões e
definhar o resto no mar
da amarguras,
prepare a mesa,
vou
jantar com você esta noite, e
te quero como prato principal.

[...]

as páginas dos livros que leio estão querendo me dizer algo, ouço, eu calo, as palavras a partir de
um tempo já não são lidas como antes, questão sonoridade, eu só as ouço, tento transmiti-las, talvez,
com modificações, mas prefiro-as assim, do jeito que são, sem nó e sem laço, um montão delas, só
pra matar minha fome de conhecimento.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

bordô 91

essa vontade louca de tragar a vida de uma vez só, não sai da cabeça, e só sossego quando fizer, hoje pus na mesa meu melhor vinho, um bordeaux de 1991, uma viagem no tempo, te esperei, ainda esperei até semana passada, mas nenhum sinal de vida, não sei se ainda bate seu coração, mas não importa mais, - quebrei meu cinzeiro, aquele CinZano, antigo, de porcelana branca, caiu da janela, cheio de cinzas, os restos do meu heart estavam juntos dele, quebraram iguais, graças a queda, não vou mais precisar sentir ele doer vez em quando.

pureza

sou caso sério, não tenho segredos, algumas pessoas ainda me aceitam,
e meu físico não condiz com meu estado de espírito, sinto meu gosto apurado,
na carne eu trago minha essência, meu sabor, não trago menu, sou o que como.

crochê

na cama eu adormeço meu espírito, meu crochê me aquece, transa de trançados, eu pareço estar bem "num" estado esquizofrênico e a noite traz consigo a insônia ao invés do sono, mesmo que impresso por remédios que me façam dormir, inúteis, perco o sono e me perco na noite que por si só já se diz sombria, uma beleza chavear a portar e trancar-se na rua pra esperar o sol vir estampado no céu, logo cedo, mesmo que chova a noite inteira e a neblina tome conta do meu caminho, mesmo assim com obstáculos quero percorrê-los e caso eles me levem a lugar nenhum quero fazer com que eles se abram e dai, eu farei eles percorrer-me da cabeça aos pés, e por falar em pé, lembrei-me do pé de roseira que avistei semana passada, despetalei ele e as suas rosas e seus espinhos me marcaram e ainda me marcam, trago-os nos pés e nas mãos cravejados como cruzes, credo, parece que enlouqueci, ou talvez eu esteja vendo muito a tv, ou vendo minhas próprias palavras serem postas a póstumo aqui, por eu mesmo, enlaçando-as nesta bendita página benzida, e deixo minhas palavras límpidas até lê-las novamente, e o dia amanheceu...
noite passada, realmente, eu estava fora de mim, chovendo por dentro, e por fora? por fora eu me sinto impossível.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

life

meu amor onde fomos parar?
esta vida sã, esta vida insana,
esta vida santa, esta vida puta,
esta vida pura, esta vida impura
que nos trouxe pra cá.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

o céu menstruava meticulosamente a chuva,
era sangue, era água, era o barbante
a me molhar.

domingo, 8 de maio de 2011

safar o sarro,
o agarro safado
o gozo safo, afo, fo, o
árduo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

ser-sou

eu sou um rabisco qualquer, sou um erro ardente, sou o açúcar, o sal, o insosso da carne, o salgado da língua que transita nas palavras das frases dos argumentos, o chuvisco no fim de tarde e o céu cinzento que acompanha as paisagens, sou o molho, sou molhado, sou saliva, sou o balbuciar na falta do que falar, sou homem preto e branco, sou o preto no branco, sou o preto, sou o branco, sou homem, sou confuso, sou cafuzo, sou o preconceito do homem e sou homem sem preconceito, sou de palavras inteiras, sou a verdade e a mentira, sou uma mentira, sou a verdade, crua, nua, pura, mentira, sou cabeça-tronco-e-membros, sou apenas solidão, e antes de ser sou tudo e sou nada, só isso mais nada. 

sábado, 26 de março de 2011

"arte de amar"

deixa o teu corpo entender-se
com outro corpo.
porque os corpos se entendem,
mas as almas não.



Manuel Bandeira

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

voz

não gosto de jeito nenhum de muitas pessoas, acho difícil convivê-las, não
sou egoísta, e sou, não estou afim de lidar, de me dar, de me adaptar aos outros
mundos, lá fora, e tenho língua na boca, e falo: é bom, e digo mais: aumente-me o volume e me ouça, não sou ou estou feliz, apenas expresso a beleza de se ter a fala.
por que sinto-me aprisionado em mim, e a
unica maneira que
tenho de fugir disto, de dar a voltar 'porcima', 
é escrevendo as minhas entrelinhas.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

true

o espelho parou de refletir a verdade, a minha verdade, já não acho meu personagem oriundo, aquele que dá inicio a toda minha manifestação de ser, o que sou, ou o que já fui, choro, grito, berro e urro para o mundo: salvem-se ou fodam-se.
eu estou aqui e agora, não me limitando em palavras, mas ditando elas para quem quiser lê-las, comê-las, engoli-las, ingeri-las, não me causa dor, me causa prazer e, já de botões abertos, soado, descalço, quase nú, louco,
vem me nudar e vestir.
uivos e gritos, dentro da mata fechada, escura, soturna, de trilhas de pedra,
é preciso adentrar até chegar no meio, até chegar a hora de voltar,
fugir do mato, voltar com dentro das pernas: o rabo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

farpas

ia assim, rasgando, furando, buscando espaço pra penetrar, pra ferir, até achar meu coração, e sair, e sentar-se ali pra ver-me sangrar até não restar nada, nada em artéria, em veias e vias do meu corpo, perfurado, arranjado por pontas, que se faziam presentes e constantes, agulhadas sem alinhavo, sem ao menos marcar o ponto de furo, em puro tecido, desviando dos ossos, futuro adubos, guardados entre carne, carne viva-morta, que ainda respira pelos poros, dos pêlos da nuca.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

partículas

não conto as vezes que venho aqui debulhar minhas palavras soltas, minhas gotas amargas, benzer esta santa página, das mesmices de cada dia, de dor, de tempestade, de fim de tarde, das tardes da lagoa, que não esconde a metamorfose da camaleoa, e insere as frases guardadas da semana passada, que perfuma meu ambiente quadrado, que fortalece minhas artérias cansadas, encarnadas por entre músculos vivos dos meus braços, já não deixam marcas minhas digitais, estou da semana passada.
ia assim, anita, de olhos d'água e lábios vermelhos.

(...)

"E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serão os mesmos. É fácil porque os dias passam rápidos demais, é difícil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles se perguntam o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontrem e que nada, nada seja por acaso."


Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

catei no fundo da carteira os últimos centavos guardados, esquecidos, enrugados, debaixo dos reais dobrados, dos meus 20 paus, não gastos, queria comprar o mundo e trocar por cocada, ou queria ser o rei das cocadas, não, eu não queria, eu não quero nada, por que querer é vicio, vicio das pessoas, porque será que as pessoas estão sempre a querer alguma coisa? é a vontade de satisfazer o eu, alimentar o ego, sei disso tanto quanto sei o quanto quero terminar essas minhas linhas de palavras, escritas, bonitas, querendo ser ditas.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

frestas

se as vezes que te olhei em frestas, foram pra você não me ver, engano, tolice, sua, minha, nossa, porque eu sempre estive a mostra, nu, resplandecente, eu não quero tapar nossa visão de mundo, nem mesmo estragar-nos, quero preservarmo-nos, porque eu sei que aquelas paredes ainda agonizam de nós, por nós, cansadas do nosso calor, e, lembram o dia que me segurei a sua boca/língua pra não me afogar, quando fomos a entrada e a saída, e eu ainda sei quem somos.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

perfume

doce, suave, forte, madeirado, o seu, o meu,
sentir o cheiro dói, feri, remete ao passado,
passado-presente, louco, você me deixa,
não usa, usa, me enlouquece cheirar, deixa que eu cheire,
sabor exalante que penetra, rasga, feri minhas narinas
sensiveis e adaptadas a este odor, bom, otimo, penetrante
que não consigo, me entrego ao desvaneio sem retorno
com seu cheiro exorbitante que inunda minha alma.

escrito por: Tertuliano.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ferida---------------------------------viva

tem horas, não tem, me encontro ali, jogado no chão frio, ferido, ferida                                                           exposta ao ambiente rasgado, molhado, tumultuado, vazio, gostoso, onde os nervos tremiam, e jorravam lágrimas, onde o                                                         sêmen se espalhou, e por mais que eu saiba, e eu sei, você se encontra em pura                                                                carne viva, sua cara pintada em dor, em sentimento, talhado, lacrimejado, de cara borrada,                                                     sua pintura corpórea, não nega, que por mais abstrata que seja, eu ainda consigo ler,  com                                                       meus olhos nús, vestidos apenas em pupila limpa, em retina seca, gasta, de tanto olhar você de longe, e não            poder, não te poder, podendo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

drink

fora palavras, contidas e escritas em papéis, de folhas finas e estampadas, ia-se assim, dois corpos nús, estátuas monumentais, sexo em volta, sexo em nós, cabelos longos, curtos, trançados, transados, por entre dentes e músculos, fina estampa, atacados e soltos, grampeados no mesmo papel, está perto de ser dita, a palavra contida em mim na boca, com suas palavras parecidas, barrocas, de pessoa empírica, que gosta de ver, de se ver no espelho, pelado, e achando assim, um labirinto em si, inclinando-se pra o lado de lá do sim, inscrevendo suas palavras assim, em voz alta, em retardo, admirando sua pele preta, negra, escura, de carne pura, em artéria dourada de sangue-vinho, vinho, nada de bebida amarga, veneno em taça, brinde a eles, na verdade, brinde a nós.

cháfé

água fervida, quente, fogo, colher de pó de café, jornais e revistas,
política e cachorrada, maneira refinada de um noticiário, açúcar cristalino,
café, nem doce, nem amargo, xícara, nem cheia, nem vazia, meia, querer surpreender alguém, por
pouco, aos beijos, ou, olhando, detonando, explodindo,
numa delícia que se é.

contra-indicação

arrepio, juba assanhada, corpo molhado de suor,
de tanto querer você,
olhos feitiços,
fera indomável,
sem rédeas,
dois mil cavalos dentro de mim, nervo rígido, vontade de foder.
tristeza guardada na cara, expressão feliz, aparentemente bem feita, sorria de si e de quem passava na rua, era daquelas que não enxergava o próprio rabo, e não prendia a fala quando queria e caçoava dignamente de quem queria seu mal e era ingênua por não entender nada, tinha uma enorme ferida no coração, por que quis separar-se.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

transa

descobertos dos pés a cabeça, a carne limpa, a cama larga, mas pequena para os dois corpos suficiente naquela noite de lua míngua, que não mínguava eles em palavras, em gestos, em cheiros e posições, numa dança de personagens fáceis, em que a comunicação se procedia com tátil, de mãos nas mãos, e mãos no corpo que não os pertencia, desenhando com as pontas dos dedos as fendas encontradas, e encontro de línguas perdidas e achadas, em bocas alheias, de idiomas variados, busca incansável de um desejo intenso, jamais traduzido, em palavras, em som, em gestos, a mais provável forma de sentir e se habituar ao calor do outro corpo, calor que provoca arrepio,corpo fechado, suado, das pernas bambas, das pernas abertas e delas apoiadas nas outras pernas, que se entranhavam calados e fazendo sons bizarros, afinados, fora do som, fora da melodia, impossível classificação sonora, certamente, cantando pra si.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

expressões

portas e espaços fechados, poesia concreta em cada esquina,  fumaça subindo apagando as estrelas, homens, mulheres e crianças, caminhando livres, pelas ruas da cidade, sim, ando chutando o que vejo no chão, ando chutando o amor em sua mais crua forma, puro, latente e mais que complexo resolvê-lo, mesmo usando todas as fórmulas existentes, impossível pra mim, desisto, amor não é cálculo, nem mesmo fácil.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

saliva

que se eu soubesse o sal contido em minha língua, rimaria doce, as palavras contidas na boca, sentindo o prazer delas, brincando com o poder pertencente a ela, língua salgada, palavras simples rimáticas como mar e ar, o sal do mar atingiu minha boca, e o ar-vento, por entre cabelos e pêlos do meu corpo, puro calor, suor, salgado, língua, salobra, salina, sinto água na boca.

bússola

de pés descalços, o corpo nu pela metade, ia descendo a ladeira cambaleando, tropeçando nos astros, ja cansado de corpo, e cansado da alma, com uma ferida acesa, latejando sem fim, ele queria encontrar a saída, queria encontrar com ela, pra que limpasse a vista de súbito e ele voltasse a enxergar a si próprio e enxergar a ladeira que ele devia subir ao invés de descer pra um caminho sem destino, sem rua, sem palavra alguma, que ele pudesse ser, apenas ser, o que quisesse, um girassol ao sol, ou um passarinho voando longe, sem ninho, apenas ser ele.
ando sentindo fome, fome de escrever, fome de tudo, até de você, escondendo isso por trás dos meus óculos escuros, carregando nas pernas o peso do corpo todo, tomando cuidado pra não tropeçar nas proprias pernas, é ando preocupado comigo, porque não quero a obrigação que é o mundo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eu

Eu sou um coração sofrido
Sou vela sem rumo num mar de mistério
Sou dia de tormenta que a tudo fustiga
Sou sol radioso que só sabe aquecer.
Sou o amor, sou o ódio, desilusões e esperanças
Contradições...
Sou toda contraditória, não me explico, não me explicam...
Sou chuva caindo fina por sobre telhados
Sou fogo crepitando na lareira
Sou alegria
Sou sofrimento
Mas nunca, indiferença...
Sou dentro de mim, sou fora de mim, sou o mundo todo
Sou a onda que vem tímida chegando, mas que volta correndo para o seu mar...
Sou borboleta, sou pássaro, sou luz
Encantamento, liberdade, momentos.
Mas também sei ser treva, vazio, abandono
Sou uma casa, pequena por fora e imensa por dentro
Tenho segredos, recantos secretos, que a ninguém mostro e nem mostrarei
Sou criança e sou mulher
Sou lágrimas contidas, sorrisos contidos, ternuras contidas.
Sou o fogo que queima e a água que refresca
Sou aquela que sofre, mas afasta o sofrer
E principalmente, sou forte!
Sou folha que cai antes de chegado o outono
E sou semente que germina sem ser semeada...
Sou lamentos, soluços, lembranças, tristezas
Mas ao mesmo tempo sou momentos felizes
Sou o raio que cai, escolhendo o lugar: sem ferir, sem matar
Consigo passar e não deixar marcas de meus passos
Consigo chegar e não me fazer presente...
Sou perfume antigo, fragrância evaporada
Sou nuvem, sou céu, sou espaço
Sou o rio que passa tranquilo e sou o mar bravio
Sou natureza, sou natural, sou eu
Sou um livro aberto, mas ao mesmo tempo cheio de imprevistos
Desafio os riscos, enfrento-os e me sinto mais completa
Sou a calma mas também sou a aflição
Sou um ser que pensa, que transmite, que absorve
Sou alguém que sofre sem querer sofrer
Sou alguém que espera sem ter o que esperar
Sou nesgas de sol e momentos sombrios. Eu consigo ser assim. Ser tudo e não ser nada...



Escrito por: B.K.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

esquizofrenia

procurar com lupa, com binóculo e luneta, ou a olho nu, cada pontilho, cada grão de milho, caçar com mapa o x do tesouro, cujo mapa desenhado na mão, traz nela a tradução das trilhas embutidas, em paredes secretas a serem prestes a descobrir, e descobrir-se perdido por entre elas, mapear-se a ferro e fogo, por dentro e fora, cada centímetro mais fundo, coração, pulmão, estômago, tripas e enfim os ossos gastos da soalheira e, mesmo assim, já nu, de olho e corpo não encontrar, não encontrar-se em si.

domingo, 16 de janeiro de 2011

(des)fiado

violão de cordas afiadas, facas de um bom corte, tocava cortando os dedos de ódio, de amargura, porque estava cansado do sentimentalismo barato das pessoa na rua.
e sentava-se toda 17:00h para tocar esse mesmo violão, sem cantar nada para não ofender aos próprios ouvidos, agoniados pelos mesmos sentimentos alheios, principalmente de uma tal de josefina da perna fina, que usava um chapelão pra não desbotar a cara no sol do meio dia, que queimava e ardia, e ela sempre passava por ele assobiando algumas merdas e ele sempre respondia com uma banana, apoiando a mão esquerda nas costas do braço direito, bem firme pra que ela ouvisse quando atravessasse a esquina da rua da frente sem precisar ele gritar, e mandar ela se lascar meio dia em ponto, no meio da rua, mas ela muito metida a esperta cobria as orelhas com as abas do chápeu, coitada, cobria os brincos e aqueles orelhões que carregara na cabeça, não sabia o bem que lhe fazia.

entrelaçados

pouco vestido, apenas as partes mais complexas do corpo, as fendas que se localizavam fáceis, geometricamente falando era impossível classificar tamanhas peças, formas abstractas e pinturas não límpidas, novamente abstracta, porque é a única rotulação para aquelas ovulações, de imediato um choque ofuscante de retina dilatada, lentes convergentes, focadas apenas no x da questão, um resultado enrustido, corpo inerte, no tempo, nas horas, e na secura de, porque revelar ao corpo sua necessidade revelará a si seu açúcar e mel, produzido a mão nua, com medida de grãos, de quilo e percentagem de eficiência, pintura com título jamais visto, era neologismo, eu, empírico, confio apenas em meus pincéis de madeira, e a tela feita de um tecido branco desbotado, riscado do semi-árido paladar, de boca cheia, salivando de vontade de comer outro corpo no ponto, de quatro, com todos os talheres em mãos, detalhes de crença e presença de um devoto desconhecido por mim que não crê em si mesmo, pelo simples fato de ter sido vitima de uma mera desinteria quase sem fim, que não pedira a Deus, mas mesmo assim ele o concedeu, que quase pôs as tripas naquela privada ali, bem ali, na sua esquerda, num banheiro imundo sem porta, ao léu, é sonho de consumo, dele, ter um banheiro decente pra fazer merda, quando lhe der vontade.