terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

voz

não gosto de jeito nenhum de muitas pessoas, acho difícil convivê-las, não
sou egoísta, e sou, não estou afim de lidar, de me dar, de me adaptar aos outros
mundos, lá fora, e tenho língua na boca, e falo: é bom, e digo mais: aumente-me o volume e me ouça, não sou ou estou feliz, apenas expresso a beleza de se ter a fala.
por que sinto-me aprisionado em mim, e a
unica maneira que
tenho de fugir disto, de dar a voltar 'porcima', 
é escrevendo as minhas entrelinhas.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

true

o espelho parou de refletir a verdade, a minha verdade, já não acho meu personagem oriundo, aquele que dá inicio a toda minha manifestação de ser, o que sou, ou o que já fui, choro, grito, berro e urro para o mundo: salvem-se ou fodam-se.
eu estou aqui e agora, não me limitando em palavras, mas ditando elas para quem quiser lê-las, comê-las, engoli-las, ingeri-las, não me causa dor, me causa prazer e, já de botões abertos, soado, descalço, quase nú, louco,
vem me nudar e vestir.
uivos e gritos, dentro da mata fechada, escura, soturna, de trilhas de pedra,
é preciso adentrar até chegar no meio, até chegar a hora de voltar,
fugir do mato, voltar com dentro das pernas: o rabo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

farpas

ia assim, rasgando, furando, buscando espaço pra penetrar, pra ferir, até achar meu coração, e sair, e sentar-se ali pra ver-me sangrar até não restar nada, nada em artéria, em veias e vias do meu corpo, perfurado, arranjado por pontas, que se faziam presentes e constantes, agulhadas sem alinhavo, sem ao menos marcar o ponto de furo, em puro tecido, desviando dos ossos, futuro adubos, guardados entre carne, carne viva-morta, que ainda respira pelos poros, dos pêlos da nuca.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

partículas

não conto as vezes que venho aqui debulhar minhas palavras soltas, minhas gotas amargas, benzer esta santa página, das mesmices de cada dia, de dor, de tempestade, de fim de tarde, das tardes da lagoa, que não esconde a metamorfose da camaleoa, e insere as frases guardadas da semana passada, que perfuma meu ambiente quadrado, que fortalece minhas artérias cansadas, encarnadas por entre músculos vivos dos meus braços, já não deixam marcas minhas digitais, estou da semana passada.
ia assim, anita, de olhos d'água e lábios vermelhos.

(...)

"E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serão os mesmos. É fácil porque os dias passam rápidos demais, é difícil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles se perguntam o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontrem e que nada, nada seja por acaso."


Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

catei no fundo da carteira os últimos centavos guardados, esquecidos, enrugados, debaixo dos reais dobrados, dos meus 20 paus, não gastos, queria comprar o mundo e trocar por cocada, ou queria ser o rei das cocadas, não, eu não queria, eu não quero nada, por que querer é vicio, vicio das pessoas, porque será que as pessoas estão sempre a querer alguma coisa? é a vontade de satisfazer o eu, alimentar o ego, sei disso tanto quanto sei o quanto quero terminar essas minhas linhas de palavras, escritas, bonitas, querendo ser ditas.