quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

figuras de linguagem

sussurrava suavemente algumas palavras caladas, em meu ouvido esquerdo, meio surdo, de tanto ouvir-te,e aquilo ardia, mas não me refiro ao fogo, mas ao que sentia, que ardia e queimava mais que uma brasa acesa.
paria aquelas rimas, sem nexo, com nexo, um termo qualquer, entre parênteses, e brotava sem querer querendo, eclodindo fluentemente, no presente do indicativo, uma meta, uma metáfora, dentro fora, coração batendo acelerado, trovão, imensidão do som, do momento.

samba

vestida de branco, colares de todas as cores, de todos os
tamanhos, seus lábios carnudos e vermelhos, era assim, na
roda de samba, Rita Baiana sambava sensual, vibrante e chamativa.

ferida antiga

nas mãos uma bolsa, na verdade um bolsão, branca com missanga coloridas que de longe via-se um arco-íris, mais enfeitada que santa cruz de beira de estrada, no couro um vestido florido, com um roda pé de lantejoulas prateadas, mau se via, ia resmungando alguma coisa que não conseguira digerir.
disse poucas e boas consigo mesma, era mais violenta com ela, do que com quem lhe perturbara, e pensava em chegar logo em casa, pra bater na própria cara, e desejava pra si, um buraco no caminho que fizesse quebrar aquele salto de 7cm, que ela não gostava muito, por isso ia cambaleando com as pernas, a bolsa ia vazia e cheia.

tinta

era tinta tingindo as paredes, tingindo o chão, furtando cores,
furtando amores, era ferida acesa, na síntese, na demora, na grande
apoteose, e, sim, era envolvente, como um dedo no gatilho, engatilhado,
com vontade de atirar, mas sem força no dedo, para apertar, para topar,
para matar, era assalto, era o roubo da essência, da verdade, enganador,
camaleão, leão, feroz, fera mansa, paladar salgado, de vontade de sair, de
parar de tingir a própria cara, engomada e passada á ferro de vapor, camisa
desdobrada e vestida no corpo nu.

no copo

o copo que esteve cheio, hoje está e permanecerá vazio, sem vinho,
mas cheio de ar, e o vinho que já conteve no oco do copo ocupava lugar,
ocupava metade do que hoje é ocupado por ar. Era metade dor, era metade
amor, ocupando o copo, e é sempre bom lembrar que um
copo vazio está cheio de ar.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

retrato

caminhando manso, olhos abertos e fechados, cabelos ao vento, sorriso refeito, sensação de alívio, em plena tarde de domingo, ao molho branco, goticulas pretas, desfocado, e focado apenas no rosto da alma, ela nua e crua, mais pura que nunca, um absurdo incomum.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

...

variando na rua e no tempo, te avistei, ou era você, ou não
era você, sim, era você, passando por mim, me viu, acenou e
apertou a minha mão, e a deixou marcada com seu perfume, que
fiquei durante horas cheirando e buscando sua essência dentro de mim.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

peça

sempre há aquela sensação de está faltando uma peça do quebra-cabeça,
e está tão perdida que se torna impossível achá-la, procuro, mas não me
acho dentro de mim.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

camaleón

hoje foi possível ver o céu mais claro, a revolução passou, mas eu sei
que volta, por que sempre voltou, voltou sempre que passou, o dia foi
muito quente e as gotículas de suor marcaram o caminho e a cara não mente,
não esconde a dureza da semana, esses últimos dias tem sido dureza mesmo,
além de um pouco de frieza em tudo, não alterou muita coisa, me adapto bem
a tempos ruins, principalmente esse, em que eu fui mudando, sofrendo mutações,
e me adaptando, como um camaleão que furte cores.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

onde estive de noite?

ando tão cansado, cansado de procurar felicidade e não encontrar, procurar meticulosamente em cada parte da casa,cadê felicidade? onde se esconde?
ontem revirei uma, duas, três, quatro mil vezes de tédio, em cima da cama, meu corpo suava, eu sentia chamas, eu sentia incêndio na casa, no quarto, na cama, em mim, um chiar na alma se misturava com latir dos cães, na rua, e o miar dos gatos, no telhado, e faziam uma dissonância, e na verdade eu era a dissonância naquele inferno eufórico, em que eu comecei a emitir alguns sons sem medidas de volume, era macumba, era resposta e saída daquilo tudo, manifesto de tons, de cores, de sons, de dor, a carne nua-crua-viva estalava em conjunto com o ponteiro dos segundos do relógio,e eu fui aguçando os ouvidos até me concentrar apenas nos tilintar, e fui me acalmando, fui virando leão de presas curtas, sem rugir pra o teto, apenas ouvindo o batuque das minhas piscadelas, que me diziam que a mais louca forma de dormir é dormir sem ter acordado e acordar pra dormir.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

rapariga da quinta

coração selvagem vai se alienando, se estilaçando, procurando outros meios de doer, me lembro bem daquele rapariga da quinta que tomamos, me deixou com saudades, de cada gole, ela estava do meu lado, deixou apenas uma lembrança, a marca dos lábios com batom, o franzir deles na taça, e algumas palavras, alguns olhares, que me diziam alguma coisa, a qual não fui capaz de desvendar, e desvendei sim, numa transa louca, de olhos, narizes, bocas, peitos, ombros, braços, barrigas, genitálias, bundas, pernas, nús, nos envolvendo, nús de corpo, nos matando de prazer, nús de alma, nos entrelaçando e nús de nós mesmos.

variabilidade

detesto pessoas não resolvidas com sua nudez, aquelas que só exergam seu corpo do pescoço para cima e não sente a docilidade de ser o que é, independente de genitália, homem ou mulher, por que é tolice não sentir o próprio prazer, de cada ser, cada corpo, cada sexo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

parte-mim vol2

ando atordoado, trocando as palavras, os idiomas, deixo as frases pela metade, não termino minhas entrelinhas, não termino de ler os livros, não termino as músicas, não termino conversas, não termino desenhos, não termino os filmes, estou ligado apenas ao término das ondas, as ondas do mar do amor que bateu em mim, a única coisa que it's up me no momento, quero apenas caber-me, ouvi um dia desses que antes de tudo é preciso cair na realidade farta, tired of all, wanna just more one step for fly, e, and, y, et, en...

parte-mim

trabalho em traduzir-me, esse todo mundo que sou, em não dá razão, mas dá significância as coisas, coisas que me cercam, coisas fora do alcance da mão, coisas abstratas, coisas palpáveis e não palpáveis, sinto elas aos poucos com cautela, essa é a chave, sentir e sentir, uma vez eu me disse: apenas sinta, e eu senti, quando aconteceu não esperava, era pra não esquecer, esqueci metade, trabalho nessas coisas, nas quais me sinto louco e lúcido, não importa o momento, deixo tudo acontecer, com cautela, é tudo muito imprevisível, o inesperado quer chegar: eu deixo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

pedrali pedracolá

subindo a ladeira da vida, enladeirando a vida e empurrando com a barriga, não pare pra descansar, porque ainda falta muito, e esse muito é indefinido, subamos esta merda sem raclamar, e tomemos cuidado com as pedras, porque se não tropeçarmos aqui, tropeçaremos ali, e sucessivamente.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ameamor

Tanta gente diz que ama,
ama tanto que transborda, e nem sabe
mais o que ama, eu transbordo, mas não de amor,
deixei de caber nas coisas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

no de agora

Quarto vazio, noite fria,e eu, no canto encolhido.

T.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

(...)

Numa noite de sábado, trancados num quarto,
de pernas entrelaçadas de línguas envolventes.

T.

ser

eu sou tudo,
não sou nada,
sou desdobrável,
posso ser pedra, flor e espinho se você quiser,
posso ser o que você quiser

terça-feira, 31 de agosto de 2010

[...]

numa noite de frio,
um bom vinho e
dois corpos no cio.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Caio Fernando Abreu

Não me venha com meios-termos,
com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha à mim
com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar.

(Caio F. A.)
quero aprender a envenenar as pessoas, do mesmo jeito em que elas me envenenam e, me corrompem, quero tomar pra mim, tudo o que não prover apenas do mundo, porque as coisas mundanas são insuportáveis, amargam e queimam no interior.
não sei porque essa gente agora pensa que me faz de besta, que gira o mundo e me lasca.
queridos, laska em tcheco é amor, então nem vem que não tem, porque comigo não cola.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"enquanto eu disser"

não precisa me assegurar das certezas que ficaram perdidas no espaço,
apenas me segure em seus braços e me aqueça neste inverno, neste inferno,
enquanto eu choro até o verão.

terça-feira, 29 de junho de 2010

freedom

em ti fui um, como o infinito, e vi a lua tímida se gastar em vergonha, "derreteu-se" em pó, em açúcar, cristalino, e os grãos caiam sobre nós lavando a minha e a tua alma, como se adoçassem nossas vidas em ilusões de pouco tempo, até chegar o fim, o fim da noite, da liberdade, da pouca liberdade que nos resta, porque o dia não nos basta, andamos como morcegos a noite, em busca de paz, a paz que nos falta e, nunca encontramos, e encontramos sim, em nós.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

eu preciso saber

eu preciso aprender mais, e aprender o que não sei mais, e, aprendi que não se deve contar com o ovo no cú da galinha.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

[...]

sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você,imagina se eu acordasse no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!

fragmentação

Hoje uma noite de possessões incompriensíveis, procurando sem achar uma peça do meu quebra cabeça, pelo meu ser cheio de feitiços e mazelas, flechadas de baixo pra cima e um fundo musical, folk denunciando tudo e tirando as mascaras e recompondo as faces escuras, o blues amargo junto de um poema surreal, asim como eu. É muito bom sentir essa docilidade da insanidade, é quase divina, uma sensação que me tapa a goela, mata a sede e não sufoca. Mesmo assim nessa euforia, os amores voltam-me a cabeça. De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo. Mesmo que depois venha a morte e nos mate, mas nos mate amando.

underground

tudo que eu anda fazendo e sendo eu não queria que ela visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo que talvez eu não quisesse que ela soubesse que eu era eu, e eu era.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

sempre

Mesmo quando chove ou o céu tem nuvens (os dois amantes) sabem sempre quando a lua é cheia. E quando mingua e some, sabem que se renova e cresce e torna a ser cheia outra vez e assim por todos os séculos e séculos porque é assim que é e sempre foi e será .." Caio Fernando Abreu, Depois de agosto, na antologia O amor com olhos de adeus (1995).

domingo, 30 de maio de 2010

amor?

Amor não tem efeito, nem causa, nem princípio, nem fim, e é tudo, tudo isso ao mesmo tempo.


"A Moreninha", Joaquim Manuel de Macedo.

domingo, 16 de maio de 2010

smoke on the water

para que esconder-se? cansei de me esconder debaixo da cama e, as vezes que enfiei a cara no cú, só para não ser julgado, de uma incerteza incerta, mas dequê se tem certeza, dequê?
doque andianta se esconder nos reflexos das impurezas da vida, minha vida cheia das mazelas, que eu mesmo as conquistei, sozinho, e quero viver cada uma mesmo que haja o gosto amargo da dor, porque se dói é bom.
além disso, quero continuar vivendo destrambelhado, imperfeito, gosto de estar malacabado pelos meus vicios crueis e defenestrar o resto.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

soul mate

eramos dois quando separados,
e um quando nos entranhamos,
e apartir daí eramos quatro, i, she and our shadows.

cospi-cospi

chegou, bateu em minha porta, entrou e falou o que quis e o que não quis, cuspiu tudo, tudo na minha cara, eu disse: - cospi mesmo, cospi agora e aproveita, porque mais tarde quem cospi sou eu, na tua cara.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

my loneliness

sorrir um sorriso da semana passada me fez bem, então acho que enquanto escrever estarei bem, se pego cigarros, tô vaporando a vida, porque quero ela suja e quente, só pra me manter na solidão, de onde vem minha força e o resto não importa, toma a tempestade-feita-no-copo-d'agua-e-naosilencia, porque te dou o direito de falar, mesmo com a tempestade que é o mundo, na boca.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

04/04/1994

hoje eu senti, como um muro, caindo, tijolo por tijolo, em cima de mim, não sei o que fiz, pra pra ele cair, só sei que vivi do meu jeito, do jeito que sempre vivo á 15 anos, fujindo de tudo que é normal, tô chorando agora, mas sem problemas, tô acostumado com tudo isso, e tô me economizando pra um momento que virá, só não sei se vai ser do jeito que eu quero, mais vou fazer o maximo pra que seja, e será.

(04 de abril, virá, cera e será)

segunda-feira, 29 de março de 2010

vida (des)orientada

não, não quero mesmo conversa hoje, estou meio desorientado, não sinto nem mesmo a respiração, quanto mais minhas batidas cardíacas, mas tudo parece tão bem, talvez esteja mesmo, ou sou eu querendo que esteja, mesmo não estando, quero um cigarro urgente quero vaporar minha vida, quero também tomar uns drinques, aqueles mais suaves que eu tiver, só pra matar a sede de defenestrar-me e, depois de bebâdo quero cantar,(todo bebâdo canta), pra espantar meus males, pois quem canta seus males espantam, então danem-se! vão para o inferno!
vou ler algo, escrever minhas entrelinhas e degunstar a vida que levo, ou ela me leva.
o cigarro apagou vou correr pra pegar outro.
need smoking myself.

domingo, 28 de março de 2010

my world is strange

i woke well today, but no of way that i wanted, as coisas a minha volta pareciam tão surreais, but are, i live a world surreal, we live and see, the world is a project made by you, vocês que o constrói, mas eu não, eu não faço parte desta construção, eu mesmo faço o meu world, meu universo fechado de todos, fechado de tudo, onde só eu visito and live.

sábado, 27 de março de 2010

sinestesia

quero ver a cor do sabor,
sentir os sabores das cores da vida,
ouvir o som do cheiro,
ver as cores do amor e do som,
bemol, sustenido e as cordas embaraçadas do triste violão desafinado e, tocar aquela velha música que me faz flutuar de olhos fechados.

mundo platônico

saí por aquela porta e não voltei, não voltei tão cedo, para não viver normalmente, pra não relembrar as vezes que voce me deixou, sempre deixou, eu ir embora, não precisa fingir que não me conhece que não me enxerga, que não me ver mais, o que está dentro arde, queima e,é quente como asfalto.
essa dor dentro de mim não para de doer, então que doa, eu não consigo expressar sentimentos, mas estou acostumado ao meu mundo platonico, fico guardado nele, tomando precauções de toda essa realidade fútil, do mundo fútil em que vivemos.


domingo, 7 de março de 2010

ás vezes eu me sinto vivo.
quando quebro um desses objetos chatos.
que a gente esbarra sem querer.
daí eu escrevo como quem levasse uma topada.
só.